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À todos os visitantes desta página, sejam muito bem-vindos! Neste espaço irei dissertar sobre assuntos pertinentes a nossa língua, literatura e outros assuntos que chamem a atenção de nós, potiguares, ou de pessoas que gostem do nosso querido Rio Grande do Norte.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Halloween: Coisa de gringo?


Estava, para variar, navegando no facebook durante essa semana quando notei uma campanha para transformar o halloween, o famoso dia das bruxas, no dia do saci e pararmos de "pagar pau para os gringos". Movimento esse provavelmente idealizado por aqueles que não gostam do EUA e querem eliminar toda sua influencia por aqui, pelo menos no que diz respeito à cultura.
Comentei com minha esposa o assunto e ela fez uma colocação muito interessante, que "os americanos são muito imbecis para criar uma coisa dessas". Nada mais que a pura verdade. O ritual do halloween começa na antiguidade europeia com os Celtas, que comemoravam o samhain, espécie de ritual noturno que marcava a divisão entre o período da luz e o período da escuridão dentro do ano (semelhante a algo?). 
A igreja católica, instituição religiosa universal, para catequizar os povos pagãos, apropriou-se de seus rituais, inclusive este, e deu um significado cristão para todos eles. Assim, o dia no qual os celtas acreditavam se abrir as fronteiras entre o mundo dos vivos e dos mortos virou o dia de todos os santos (1 de novembro), ou all hallows day, e o nosso tão falado dia 31 de outubro é a véspera desse dia, ou all hallows eve. 
No estudo da língua, temos uma regra universal chamada economia linguística, dizendo que na fala todos temos a tendência de colocar o máximo de conteúdo em cada vez menos fala, em nome da velocidade comunicativa, em outras palavras, contraímos as expressões. Dessa forma, all hallows eve foi contraindo até virar halloween. Mas alguns devem estar perguntando-se: E os Estados Unidos nessa coisa toda? 
Os celtas, aqueles lá do início do texto, viviam em grande número nas terras onde hoje é a Grã-Bretanha, que foram os colonizadores daquele pedaço das Américas, em especial os irlandeses, que são um povo tradicionalmente muito supersticioso. Foram esses, principalmente, que levaram toda a tradição de celebrar o dia das bruxas do velho para o novo continente, o mérito dos norte-americanos foi saber comercializar a coisa toda. Nós também descendemos de europeus, então nada mais natural que comemorarmos essa data.
Mas e nossas tradições folclóricas, aquelas que são tipicamente brasileiras como o famoso saci? Ora, já temos uma data para essa homenagem, que é o dia do folclore! Cabe a nós, brasileiros, valorizar esse dia já instituído como fizeram nossos vizinhos do norte, no lugar de ficar querendo se impor sobre uma comemoração que vem de tempos anteriores ao Brasil como conhecemos.
Para aqueles que ainda insistem, achando besteira esse texto, sugiro então o radicalismo total: Vamos extirpar tudo que vem de fora de nossas festas! Comecemos pelas festas juninas. A quadrilha é uma dança de origem francesa, inaceitável; as fogueiras noturnas, como já escrito, são celtas, tira também; os santos do período não são brasileiros, nem ao menos portugueses, nem pensar; fogos? Invenção chinesa, corta das festividades também e as comidas de milho? Grão trazido pelos espanhóis para a américa, sem condições também. Tirando tudo isso, podemos comemorar as festas de junho de modo bem brasileiro, e isso para não falar do Natal, baseado em uma coisa que todo brasileiro vê: Neve. Ah, proíbam a entrada de Papai Noel no espaço aéreo brasileiro, porque ele também é tradição europeia.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Marina

Observando os fóruns de discussão (?) nas redes sociais, ou ainda coversando com um ou outro aluno, percebo cada vez mais o desgosto pela leitura apresentado por essa geração mais jovem. Existem exceções, claro, mas infelizmente é o que são, exceções. Várias coisas podem ser apontadas como vilões para essa situação, mas vou apontar apenas um, que é a péssima qualidade do material oferecido ao jovem ao longo de sua vida, especialmente escolar.

Tudo evolui, já prega a lei natural das coisas, e não é diferente com o hábito de ler. Ora, pra se chegar a ler um Machado de Assis, um Guimarães Rosa, é todo um processo que parte das historinhas em quadrinhos da Disney ou de Maurício de Sousa, passa por uma literatura mais agradável, mas que apresenta um desefio interpretativo crescente, até chegar nos autores mais renomados, como os citados anteriormente. Acontece que a falha está ocorrendo justamente nesse meio.

É cada vez mais comum a chamada literatura infanto-juvenil invadir as nossas livrarias e escolas, obras produzidas com o intuito apenas de agradar pela facilidade, por ser extremamente mastigadas, tirando do jovem a necessidade de pensar, refletir sobre o tema. Livros feitos para ser vendidos, e não para contar uma história. Narrativas que prezam pela descrição excessiva, retirando a capacidade de abstrair do jovem, e com temáticas simplórias parecendo terem diretamente saído das novelas de televisão. 

Mas o objetivo dessa postagem não é discutir esse tipo de (má) literatura, e sim falar de um livro que caminha fora do lado negro da força (não deu para resistir). Marina, livro do espanhol Carlos Ruíz Zafón, é uma narretiva feita para o jovem de todas as idades. Pela sua escrita dinâmica e veloz, o leitor mais jovem, habitante desse mundo moderno e agitado, sente-se em casa pela velocidade que os fatos transcorrem, ao mesmo tempo que é desafiado a compreender todas as passagens dessa magnífica história.

O escritor catalão, ao contrário dos que produzem literatura infanto-juvenil, não menospreza a capacidade abstrativa do jovem e o força a criar a atmosfera de uma Barcelona mística, dando apenas os detalhes mais básicos, deixa para o leitor a tarefa de preencher os cenários da narrativa, além de, para essa indicação mental, utilizar de jogos de linguagem como falar que o apartamento de uma determinada personagem estava "mergulhado no pretérito mais-que-perfeito".

A história em si é um grande quebra-cabeças, onde o leitor segue as personagens Óscar e Marina na resolução de um grande mistério. O interessante é que nem tudo esta escrito, assim o autor deixa para o leitor a tarefa de "queimar o tutano" um pouco para seguir a história em sua totalidade. "Marina" é um livro difícil de categorizar, pois você fica em dúvida se é um romance-realidade com toques de fantasia, ou uma história fantasiosa com uma pitada de realidade.

Portanto uma grande pedida nesse período de férias, tanto escolares quanto do trabalho, é ler o livro de Zafón, uma leitura que irá agradar tanto os jovens cronológicos quanto os de coração; afinal, uma das características das grandes obras é seu caráter universal, ser acessível a todo e qualquer leitor que se instrumente e capacite para apreciá-las. "Marina" é um desses instrumentos que nos preparam para voos mais altos na literatura.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Infância demolida


Essa semana, estava indo para Natal resolver algumas coisas quando tive de subir o viaduto do quarto centenário para pegar a Prudente de Morais. Ao olhar pela janela do carro, vi o terreno onde antes ficava o estádio Machadão, ou como diz um grande cronista esportivo de nossa capital, o poema de concreto armado da Lagoa Nova, e senti como se uma parte de minha história, como cidadão natalense, tivesse ido ao chão juntamente com a praça de esportes.

Muitos falam que sentimentos são extremamente pessoais, íntimos e que somente o próprio indivíduo conhece, mas naquelas arquibancadas ocorria um aglutinamento desses sentimentos. Lá, eu chorei, de alegria e tristeza, me zanguei, com meu próprio time ou com o juiz, me conformei, me revoltei, como acontece em todos os momentos da vida mas lá, no poema de concreto, milhares de pessoas compartilhavam desses mesmos sentimentos, em uma espécie de catarse coletiva. Qual o torcedor natalense, seja americano ou abcdista, na faixa dos 30 anos de idade, que nunca pisou no Machadão? Qual desses não tem pelo menos uma história para contar?

Pela teoria literária, um texto poético tem como uma de suas características suscitar emoção, e isso sobrava nos dias de jogo, fosse o clássico rei, jogos decisivos do estdual potiguar ou das séries A,B e C do brasileirão. Ir ao Machadão implicava em todo um ritual: Chamar uns amigos, reunir-se na bilheteria, resenha antes do jogo, vibração durante o mesmo, e ao final, a volta para casa regada aos comentários finais, naquelas vozes radiofônicas tão conhecidas pelos torcedores de radinho de pilha. Era o momento onde se colocava para fora tudo aquilo que sentiu durante a semana, na forma de gritos, abraços e xingamentos.

Minha infância e adolescência foi nessa montanha russa emocional que era assistir a um jogo no Machadão. Lá fiz amizades, reencontrei outras, vibrei com o América, chorei também, levei namoradas, inclusive a que hoje é minha esposa, e levei meu primeiro filho. Parte da história de minha vida, especialmente infância e adolescência, estava escrita, marcada naquelas arquibancadas. Assim como eu, milhares de outros natalenses podem falar o mesmo ou coisas bem parecidas. E tudo isso foi destruído por um evento onde pouquíssimos de nós teremos condições de ver algum jogo.

Quando formos contar aos nossos filhos sobre essas histórias, seremos como professores de história antiga, falando sobre coisas que não existem mais e rezando para que nossos ouvintes consigam abstrair e construir uma imagem mental do que está sendo dito. Claro, um outro estádio será construído, mas nunca será um poema, nunca terá a carga emocional do outro por uma simples razão: Após a copa, quem irá frequentá-lo?

O Abc já tem seu estádio há algum tempo, e já não utilizavava o estádio municipal; América e Alecrim, pressionados pela circunstância, tomaram suas providências e arranjaram outras casas. Jogam em Goianinha  e o primeiro já começou o projeto de sua casa própria, novo palco para ser impregnado de emoções e o Alecrim deve continuar em Goianinha, já que o Nazarenão está se adequando para receber grandes jogos.

Os torcedores que surgem agora nem sentirão, afinal sua história começa agora. Somos nós, que passamos dos trinta, que olhamos para aquele espaço de construção e enxergamos uma ferida no coração de nossa cidade. Portanto, a Arena das Dunas vai ter um único propósito após os quatro jogos destinados a ela na copa do mundo de 2014: Um monumento ocioso às histórias de vida de milhares de natalenses apagadas em prol de um evento passageiro.